Entre dois polos de referência em inovação, a Fiocruz e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) trabalham em favor da tecnologia. O caso é que não conseguem acesso à internet com mais velocidade. Em meio as dificuldades, Gilberto Vieira, de 30 anos, e Clara Sacco, de 27, descobriram o poder dos dados públicos, fundaram o data_labe e, junto com uma rede colaborativa, eles contribuem para melhorar a qualidade de vida em comunidades, como a Nova Holanda.
O Rio tenta driblar a crise para encontrar suas vocações e se tornar mais sustentável com a ajuda da tecnologia e da participação cidadã.
“A gente se sentia incomodado de não ter narrativas que refletissem a diversidade do Rio. No data_labe, queremos formar uma geração cidadã de dados e mostrar como o morador de favelas pode se apropriar de ferramentas para incidir sobre seus direitos e sugerir políticas públicas que reflitam e melhorem a nossa realidade.” Diz Gilberto.
No Data_Labe, os jovens aprendem onde buscar os dados e a fazer a limpeza, o cruzamento, a análise e a visualização dessas informações. A doula Vitória Lourenço passou por essa capacitação. Ao consultar o Data SUS, descobriu que as grávidas que mais morriam eram jovens, negras, com baixo nível de escolaridade e atendidas em unidades da periferia.
O levantamento dos dados foi encaminhado para a vereadora Marielle Franco – assassinada em Março deste ano-, com quem trabalhou. Esses dados serviram de base para o projeto de ampliação das Casas de Parto, lei da parlamentar aprovada em vida.
Entre os projetos do data_labe, em parceria com outras instituições, está o Cocozap, que pretende criar uma nova base de dados com fotos de locais com esgoto a céu aberto nas favelas da Maré, enviadas pelos moradores. O projeto ganhou prêmio internacional e terá acompanhamento da Casa Fluminense, para ajudar na elaboração de uma política de saneamento para comunidades carentes, a serem apresentadas às autoridades públicas.
“Pelos dados oficiais, o Rio tem 65% de acesso a serviços de coleta de esgoto. Não é nossa realidade. Queremos gerar nossos dados. A tecnologia nos permite esse poder”, defende Gilberto.
Sergio Rodrigues, engenheiro, também trabalha com sistemas integrados de informação, mas combina uma série de tecnologias, como internet das coisas e inteligência artificial, para buscar solução para as cidades.
A startup de Rodrigues, a Lemobs, faz parte da incubadora da Coppe, na UFRJ, e desenvolve aplicativos e ferramentas de tecnologia para gestão pública e privada. Um dos projetos, o Sigelu Aedes, em parceria com o Ministério do Planejamento, visa a consolidar ações de vistoria de prédios e instituições federais para o enfrentamento do Aedes Aegypti.
A ferramenta também está disponível para moradores que queiram contribuir com informações sobre focos do mosquito. Basta se cadastrar no link Brasil Cidadão, com a cesso pelo site aedes.sigelu.com/login.
“No primeiro ano do projeto, aumentamos de duas mil para 200 mil vistorias. Deste total, seis mil tiveram focos comprovados”, afirma Rodrigues.
Esse aumento só foi possível por causa do aplicativo, que recebeu novas informações e fez a gestão rápida do grande volume de dados. Ao ampliar o cadastro, o governo conseguiu outro resultado: adequar campanhas de combate ao mosquito.
“Dos seis mil focos analisados, metade ficava em áreas externas. Mas todas as campanhas privilegiavam cuidados nas áreas internas dos prédios.” Esses dados redirecionaram toda a propaganda.
Gerente da Indústria Criativa da Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan), Gabriel Pinto, é nessa cidade inteligente que o Rio deve investir:
“Não existe uma cidade inteligente sem o lado humano. Cidades para serem inteligentes precisam da conexão entre as pessoas. Soluções em rede são muito mais potentes, com alcance muito maior.
O Rio perdeu posições no ranking do Connected Smart Cities, promovido pela Urban Systems. Caiu do 1º lugar, em 2015, para terceiro, no ano passado. A cidade manteve bom desempenho em Tecnologia (1º lugar), devido ao Centro de Operações Rio, à infraestrutura com fibra ótica e a seus centros de pesquisa. Mas outros quesitos, como Segurança Pública, Saneamento, Saúde, Educação Básica e Meio Ambiente, puxaram a nota para baixo.
“Não tem como pensar em cidade inteligente sem ter o básico. O Rio precisa maximizar seus talentos e minimizar seus pontos fracos”. Thomaz Assumpção, CEO da Urban Systems.
Eduardo Magrani, coordenador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), acredita que o contexto de hiperconectividade exige novas políticas para aumentar a segurança e a privacidade dos dados.
Mas o investimento nas cidades inteligentes pode trazer benefícios, com impactos positivos na economia do estado. Para Magrani, falta ao Rio pensar em projetos mais inclusivos para valorizar sua diversidade.
Fonte: O Globo.