Com a evolução da tecnologia, o setor de energia elétrica pode protagonizar uma nova transformação tecnológica para startups e grandes empresas.
Em apenas um ano, o equivalente ao PIB do Chile foi investido em energias renováveis, isso referente ao mundo todo. São bilhões de dólares em corrida contra o tempo para conter as emissões de carbono, o que cria um ambiente muito favorável para inovação.
Há pouco mais de um ano, Elon Musk prometeu construir, em menos de 100 dias, a maior bateria de íon-lítio do mundo. O plano deu certo. A bateria é tão rápida que gera mais energia do que pode ser mensurada.
O projeto dá uma dimensão de como as coisas funcionam no setor de energia. O foco desse projeto são automóveis. Mas a companhia sabe que seus carros elétricos não vão muito longe se a energia que sai da tomada for produzida por usinas à carvão.
“Nos anos 2000 todo mundo concordava que o futuro seria por meio da internet, mas ninguém tinha noção sobre este futuro. O que vemos hoje na área de energia, é parecido”, explica Hudson Mendonça, professor da FGV e ex-Superintendente da Finep.
Isso faz com que o investimento em novas tecnologias passe por várias dimensões, ao mesmo tempo. O que cria uma avenida para o surgimento de startups e de projetos de inovação dentro de grandes empresas.
Estima-se que haja algo em torno de cinco mil startups de energia no mundo todo. Em geral, são empresas que exigem uma base tecnológica completa em suas fases iniciais, e com equipes sênior, em comparação a outras empresas.
Desenvolvedora de softwares para microrredes de energia, a Fohat foi criada há dois anos, por uma equipe com mais de uma década de experiência na indústria. Microrredes são grandes baterias, em geral utilizadas em comunidades afastadas, onde é muito difícil levar a infraestrutura da rede energético. Neste caso, é mais fácil ter uma pequena fazenda de vento e armazenar a energia nestas grandes baterias.
Os programas desenvolvidos permitem às redes uma série de outros usos, como: impedir oscilações bruscas na rede de energia e servir como um backup para grandes indústrias.
Quanto estou consumindo
Outro eixo de aposta é o “empoderamento do consumidor”. Foi desenvolvido uma tecnologia que permite ao consumidor monitorar, em tempo real, qual equipamento consome sua energia, e em qual quantidade. A ideia é oferecer o serviço para todo tipo de cliente, inclusive doméstico. Mas o foco inicial é em grandes comércios e indústrias.
“O sensor consegue fazer a medição de cada circuito da indústria sem um fio, sem bateria, nada, só com a corrente que passa ali”, explica. Estima-se que seja 10% dos gastos sem muito esforço, com base em uma análise preliminar de gastos. O que gera um impacto alto para um grande cliente.
Além de softwares para este e outros serviços, a empresa também desenvolve hardwares necessários para as medições. Existe próximo a Universidade de Campinas (Unicamp), medidores inteligentes instalados, que prescindem de operador para fazer a leitura do consumo.
Futuro em aberto
O futuro da inovação no setor de energia está em aberto. Além das fontes eólica, solar e de biomassa, há uma infinidade de tecnologias em jogo, como a geração distribuída (que incorpora a energia produzida no painel solar da sua casa, pro exemplo) e o papel das baterias neste processo todo.
O futuro do carro elétrico, que foi dado como tendência até pouco tempo, incontestável no setor automobilístico, traduz bem esta indefinição. O mundo pode seguir um modelo de carros particulares, em que o carregamento é feito em casa, com polos similares a postos de combustível onde é feita a troca desta bateria, ou no caso, de carros autônomos, pertencentes a frotas de grandes empresas, como a Uber.
Cada um destes caminhos impulsiona tecnologias de produção e distribuição de energia muito distintos entre si.
A empresa deve lançar um projeto mais amplo de parceria com o ecossistema de inovação, para reunir corporações, startups e instituições de pesquisa. A ideia é mobilizar um setor que tem talento, tem dinheiro e muita disposição para investir e apostar em coisas novas.
Os números dão uma dimensão do dinheiro disponível para inovação em energia no país. Por determinação da Aneel, todas as concessionárias e permissionárias do serviço público de energia elétrica são obrigadas a aplicar um percentual de sua receita em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Programa que não se limita, mas cada vez mais se aproxima do investimento em inovação aberta, pensada para esta nova era da indústria energética. Em 2017 (dado mais atualizado), o conjunto das empresas investiu em média R$ 563 milhões de reais em P&D, segundo os dados da Aneel.
Fonte: Gazeta do Povo