O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), André Pepitone, considera que discutir a parcela do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que incide na conta de energia é necessário para que o país consiga reduzir o valor da tarifa.

O ICMS tem peso significativo na tarifa de energia e não tem como a energia ficar mais barata sem discussão dos impostos cobrados na conta de luz. Em média quase 27% do valor final da tarifa de energia é composto por impostos como ICMS e PIS-Cofins, segundo os dados da Aneel. Em 2018, o ICMS representou 22% da tarifa média e o PIS-Cofins 5%.

“Não tem como a gente entrar em uma discussão de desoneração de tarifa se não trouxermos à baila a questão do ICMS”, informou o diretor.

A Aneel e o governo têm trabalhado em medidas administrativas para reduzir a tarifa, como a quitação antecipada de um empréstimo que retirará R$ 6,4 bilhões das contas de luz em 2019 e o decreto que prevê o fim de subsídios cobrados na conta de luz. Mas para uma redução maior da tarifa, é necessário passar pela discussão tributária.

“A gente não tem pretensão de discutir a política tributária dos estados. Mas esses mesmos governadores, com suas bancadas federais, vêm aqui na agência buscar uma discussão de desoneração tarifária”, relatou.

O papel da agência é mostrar o real peso do tributo no valor da conta de energia. “Estamos tornando os números transparentes e mostrando para a sociedade onde, de fato, podemos ter desoneração”, disse.

Ao citar as ações administrativas adotadas pela agência, foi destacado o acordo que a Aneel fechou com os bancos para quitar um empréstimo feito em 2014, para ajudar as distribuidoras de energia a pagar o custo extra que foi gerado pelo uso mais intenso de termelétricas. O acordo representará uma redução média de 3,7% na conta de energia em 2019 e de 1,2% em 2020.

Pepitone também citou o decreto que reduz de forma gradual subsídios da conta de luz para a área rural e para companhias de água, esgoto e saneamento. O decreto prevê a retirada de 20% dos subsídios a cada ano, até a extinção total do desconto, estimado em cinco anos.

De acordo com a Aneel, a retirada dos descontos propostos pelo decreto pode resultar, ao final de cinco anos uma redução de 2,5% nas contas de luz.

Reforma tributária

O presidente do Instituto Acende Brasil, Cláudio Sales, afirmou que é importante que a agência reguladora mostre para a sociedade o verdadeiro impacto dos tributos e encargos na conta de luz.

Sales afirmou, no entanto, que não é tão otimista sobre o efeito que isso tem nos estados.

Segundo ele, historicamente os estados cobram mais impostos dos setores de energia, telecomunicações e combustível e com a crise das contas públicas é difícil pensar na possibilidade que abrirão mão dessa receita.

“50% do ICMS arrecadado nos estados no Brasil vêm desses três setores. Não é realista achar que vai surgir alguma redução pontual no imposto que cobram na conta de luz. Mas, que isso sirva de incentivo a mais para implantar a reforma tributária de forma mais ampla, para que se mude a forma de cobrança de ICMS”, indagou.

Sales ressaltou que, há anos o país convive com uma carga de encargos e tributos que representa quase metade da conta de luz. “Como se isso fosse uma coisa normal”, disse.

Subsídios

Pepitone também defendeu a redução de subsídios que incidem na conta de luz, mas que estão previstos em lei e, por isso, precisam ser votados no Congresso Nacional.

Entre os que ele defende a redução está o subsídio dado para fontes incentivadas, basicamente eólica e solar.

O consumidor que compra energia eólica e solar recebe um desconto na tarifa de transmissão. O cuidado que precisa ter, é que quando ele deixa de pagar essa tarifa, passa a ser dividida entre todos os outros consumidores de energia.

Esse desconto tem um custo de cerca de R$ 3 bilhões, mais que uma mudança na lei pode permitir que as próximas usinas de fontes incentivadas não tenham mais esse benefício para a venda da sua energia.

Pepitone relatou que essas fontes já produzem energia a preços competitivos e não precisam desse benefício.

“Esses R$ 3 bilhões eu não tenho como retirar, porque foi garantido em lei, e no Brasil se cumpre contratos. Contudo, a gente tem uma oportunidade de estancar esse número. As novas outorgas, daqui para frente, diante da maturidade que essa fonte tem, não tem necessidade de conceder esse subsídio”, informou.

Esses e outros subsídios da conta de luz, como o dado a quem faz irrigação, são pagos por todos os consumidores de energia elétrica do Brasil por meio da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE).

Em 2019, os consumidores de energia pagarão R$ 17,187 bilhões nas contas de luz para cobrir os custos com todos os subsídios do setor

Fonte: G1