O setor de energia e recursos naturais no Brasil – representado pelas indústrias de energia elétrica, petróleo e gás, utilidades públicas (saneamento, distribuição de gás, etc.), energia renovável, mineração e metais e químicos – vinha com um forte direcionador ligado a retomadas dos investimentos. O governo e as agências reguladoras trabalhavam fortemente em agendas positivas, suportados pelo agente econômico, para turbinar essas retomadas.

Estabelecemos medidas relevantes como a previsibilidade dos leilões de petróleo e gás, o marco regulatório do saneamento, as cláusulas de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I), diretrizes para mudanças no setor elétrico, entre outras. São ações que trouxeram à tona habilitadores para o crescimento e modernização com a entrada de novas tecnologias ligadas a geração distribuída (GD) – reduzindo o prazo de retorno sobre o investimento e aumentando o poder do consumidor, a criação do modelo de precificação com a GD na rede, a entrada do gás como protagonista da matriz, e aumentando a eficiência operacional, reduzindo a dependência da fonte hídrica e mitigando o risco da intermitência, entre diversas outras iniciativas que se provaram efetivas e de impacto direto no bolso do consumidor final.

O segmento de mineração sofria um pouco mais, pois focava bastante (e o foco permanece) na segurança operacional e no monitoramento das barragens. Estávamos confiantes com a capacidade instalada de nossa indústria para melhoria da competitividade.

Antes mesmo do início dessa crise sanitária que estamos atravessando, globalmente, o setor dava sinais de desaceleração, principalmente, com a redução da demanda da China. As commodities de energia já vinham sofrendo impactos relevantes, o preço do barril de petróleo, por exemplo, sofria ainda mais por conta dos aspectos geopolíticos envolvendo Arábia Saudita e Rússia. E nesse cenário o Brasil vinha na contramão, já que apresentava uma expectativa de crescimento sustentável e robusto.

Com exceção do setor químico, que é um fornecedor estratégico e essencial de boa parte dos produtores de itens essenciais para os serviços de saúde, combate à proliferação de doenças e garantia do bem-estar da população, e que vem experimentando um aumento significativo da produção para garantir o abastecimento do mercado, o covid-19 trouxe um desafio ainda maior para indústria no Brasil. Com isso, teve que passar a lidar com, além dos aspectos que estavam sob monitoramento relacionados à desaceleração global, a crise sanitária e de saúde.

Diversos impactos vieram de forma imediata e afetaram em cheio o setor, como o cancelamento de projetos de investimento já que a falta de diversificação traz sérios problemas no fluxo de caixa, o aumento da inadimplência, a pressão por redução dos contratos com fornecedores. Além disso, foi necessária a invocação da cláusula de force majure (aspecto muito relevante, pois não temos muita vivência em lidar com esse tema), a descontinuidade de projetos internos relacionados à modernização da indústria, o aumento da inadimplência no consumo de energia e gás, entre outros.

Como consequência desses aspectos, algumas tendências ocorrerão e deverão ser vistas de forma bem estratégica, tais como, logística integrada com a manutenção dos fornecedores da cadeia, digitalização com a automação de processos manuais, segurança cibernética com a proteção de dados sigilosos e a implantação de novos modelos de negócios e de operação novo posicionamento fiscais por meio da recuperação de créditos e postergação de pagamentos. Além disso, podemos elencar a gestão de portfólio de ativos, criação de comitês específicos para mediar conflitos entre parceiros operacionais, otimização de custos com a revisão do quadro profissional e de contratos com fornecedores e a estruturação de capital pela renegociação e postergação de dívidas.

Este é um momento de grande desafio e aqueles que conseguirem dar rápida resposta a essas tendências sairão mais fortalecidos. Continuamos pensando positivamente, acreditando que somos capazes de retomada acelerada. Temos uma indústria robusta e bem estruturada, capaz de dar essa resposta e de trazer bom valor agregado para comunidade, afinal, não é por acaso que a indústria representa mais de 20% do PIB brasileiro.

Fonte: Revista Ad Normas.