No Brasil, a energia eólica está em expansão. Com mais de 500 parques eólicos instalados em seu território, segundo dados da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), o país assumiu a oitava colocação no ranking de produção de energia eólica mundial.

Com o interesse crescente no mercado, o Brasil se torna um país com enorme potencial.  Rosana Santos, diretora de co-desenvolvimento de projetos e estratégias de mercado da GE Renewable Energy – Wind, para América Latina, fala sobre os desafios e perspectivas do setor eólico brasileiro.

O Brasil é o oitavo país do mundo em produção de energia eólica. Ainda tem espaço para crescer nessa lista?

Tem muito espaço para o Brasil crescer nessa lista. E essa minha afirmação vem de duas verdades: a energia eólica no Brasil é uma fonte extremamente competitiva pela qualidade dos ventos que temos e casa muito bem com a matriz elétrica brasileira. Além disso, temos mais de 20 GW de projetos prontos para irem a leilão. Entre mercado regulado e mercado livre, vamos subir nessa lista rapidamente.

Que lições os países líderes em instalações, como a China e os Estados Unidos, podem dar ao Brasil?

São realidades muito diferentes. Eu não acho que tenha algo que possamos prontamente replicar, mas a estratégia de usar a tecnologia certa no lugar certo e ter os melhores produtos disponíveis no mercado é válida para todos.

Como avalia o mercado brasileiro de energia eólica?

É um país target para grande negócio nessa área. Ele integra a lista de nações onde temos certeza que de potencial para investimentos, dado o potencial energético do país, principalmente em fontes renováveis.

 

Notoriamente, a fonte eólica tem se demonstrado bastante competitiva no mercado atual. Em sua opinião, quais os principais assuntos que precisam continuar em pauta para o sucesso do setor eólico no Brasil?

Sem dúvidas, o primeiro deles, é o mercado livre de contratação de energia, consolidando-o como um espaço de expansão para a comercialização da energia eólica. Além disso, a discussão sobre as opções de financiamento também é fundamental para o desenvolvimento do setor. Embora ainda seja um tema desafiador, reconheço que já avançamos muito com o trabalho feito pelo BNDES para se adequar à dinâmica dos projetos de mercado livre, e também com o envolvimento mais contundente dos Bancos Comerciais na estruturação de longo prazo. Contudo, não podemos estacionar aqui e, para que outros resultados venham, o tema precisa continuar como pauta nas discussões do mercado eólico.

Falando sobre o financiamento para o setor de energia eólica no Brasil, qual a diferença conceitual entre mercado livre e mercado regulado?

O mercado regulado funciona por meio de leilões organizados pelo governo com base na demanda das distribuidoras de energia elétrica do país. Quando um gerador se sagra vencedor, ele assina um contrato regulado com cada uma das distribuidoras que pediu energia. São contratos de 20 anos. E o gerador não sabe para quem vai vender ao mesmo tempo em que a distribuidora não sabe de quem vai comprar até a conclusão do processo.

Já o mercado livre é essencialmente um contrato bilateral, que não tem regras pré-estabelecidas, como no regulado. Trata-se de um contrato entre duas entidades – uma que quer vender energia e outra que quer comprar. Contratos não necessariamente de 20 anos, mas com prazos varáveis.

No caso, o mercado regulado obedece a uma série de regras e atende a demanda das distribuidoras do Brasil. E o mercado livre atende a demanda de empresas que estão assinando contratos bilaterais.

Existe expectativa para o crescimento do mercado livre no Brasil?

Há uma trajetória que indica que possivelmente alcancemos, no Brasil, uma grande posição do mercado livre. Até o passado recente, essa proporção, em termos de consumo, era de cerca de 70% regulado e 30% no livre. Na expansão, tivemos anos em que não havia nada de mercado livre ou apenas 10% de novas contratações. Particularmente, acredito que a tendência é ficar 50% cada um, tanto no consumo quanto na expansão.

Em quais casos o mercado livre é a melhor opção?

• O leilão, do ponto de vista do fabricante, tem uma data fatal: é o dia do leilão. Tudo ocorre para que naquela data nosso cliente consiga vender energia. Se perder a oportunidade de leilão, a sua próxima chance seria no mercado livre, que ocorre o ano inteiro. Ou terá que esperar o leilão do próximo ano.

No mercado regulado você tem um PPA (Power Purchase Agreement, ou contrato de compra de energia) de 20 anos, que é mais financiável. Enquanto no mercado livre, o PPA é de mais curto prazo, mas você consegue vender mais alto o preço da energia do que no regulado.

Não existe um melhor do que o outro.  Vai muito do perfil de risco do investidor. Acho que fazer um mix entre os dois é ótimo e acredito ser a estratégia dos nossos clientes.

• É interessante para o setor eólico do Brasil aumentar a atividade do mercado livre?

É vital. No passado recente tivemos dois anos de contratração baixíssima em leilão regulado. Em 2016 sequer teve leilão. E na época o mercado livre não tinha arranjos possíveis, inclusive em termos de financiamento. A abertura desse mercado para contratação de energia eólica foi um passo grande.

O mercado regulado é fundamental. Mas quando ficávamos presos aos seus leilões, se não existia demanda no país, não tínhamos para onde ir. O mercado livre chegar para oferecer um importante segundo espaço de comercialização.

Uma vez que a energia eólica é uma fonte variável, embora seja uma variabilidade conhecida, os clientes têm o grande desafio de lidar com os riscos de geração. Especialmente no mercado livre, quando a fonte não está gerando, as empresas geradoras precisam comprar energia para suprir o contrato. Apostar em tecnologias adequadas aos ventos brasileiros, para que nos permitam oferecer produtos com grande confiabilidade e eficiência na geração eólica no país, é uma garantia para esse grande mercado se expandir no futuro próximo. 

 

Fonte: Época Negócios