A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) autorizou o Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia (BBCE) a emitir os chamados ‘derivativos de energia’. A licença foi dada em março e as primeiras operações desse produto financeiro devem começar a acontecer a partir de agosto.

Fundada em 2012, o BBCE é uma plataforma de investimentos criada para dar liquidez à comercialização de energia e vai atuar como administradora de ‘mercado de balcão organizado’ – ambiente em que serão negociados títulos e ativos do segmento, via telefone ou por computador, de forma parecida com o que é feito na Bolsa. São sócios da instituição grandes companhias como Enel e EDP.

Atualmente, o mercado de eletricidade é bastante fechado. As transações são feitas na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) apenas entre as grandes companhias elétricas e empresas de “trading” de energia, que especulam o preço da commodity e funcionam como intermediárias.

Na prática, quando um lado acredita que o preço da energia vai subir, a empresa trading compra das companhias geradoras ou distribuidoras de energia uma certa quantidade de megawatts. Esses megawatts são entregues de forma física à trading, que revende para outras companhias interessadas em adquirir energia elétrica.

“Hoje, o mercado funciona com a compra e venda de energia com entrega física”, afirma Mário Avelar, gerente da mesa de derivativos da Ágora Investimentos. “Isso significa que a empresa faz a compra de megawatts e deve, de fato, receber essa quantidade de energia.”

 

Com a nova possibilidade de emitir derivativos, a comercialização de energia se tornará mais líquida e dinâmica. Comprar um derivativo significa comprar um ‘contrato futuro’ para proteção contra variações de preço. É como se um compromisso fosse firmado entre comprador e vendedor, em que ficasse estipulado que durante um certo período o valor a ser pago pelos megawatts ficará fixo.

“Não é mais necessário comprar energia física com as distribuidoras ou geradoras para garantir um bom preço”, diz Avelar. “Com os derivativos, será possível comprar um contrato que vai garantir que pelos próximos 12 meses, por exemplo, a empresa terá o direito de comprar energia pelo preço que ela está hoje.”

 

Derivativos aceleram amadurecimento do mercado

Para os especialistas consultados pelo E-Investidor, ter comercialização de derivativos vai tornar o mercado de energia mais parecido com os mercados de outras commodities, como petróleo e alimentos.

“Quando uma empresa de alimentos precisa comprar milho, por exemplo, ela não compra o milho físico, compra um contrato futuro de milho na Bolsa que vai travar o preço”, diz Avelar. “E isso não significa que a empresa necessariamente vai comprar esse milho no período determinado no contrato, o que a empresa tem é o direito de comprar esse insumo pelo preço acordado.”

Isso torna as negociações, antes baseadas apenas nas vendas físicas de energia, transações puramente financeiras. “Na Europa e nos EUA esse mercado já é muito líquido, feito em Bolsa, e pessoas físicas conseguem especular nele”, ressalta Avelar. Já no Brasil, em que as mudanças estão no começo, as transações devem continuar entre companhias elétricas e empresas tradings por um tempo, segundo o especialista.

Essa também é a opinião de Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos. “Essa abertura vai possibilitar que mais investidores participem desse mercado”, afirma. “Isso também pode gerar mais receita e eventualmente permitir a entrada de pessoas físicas em um mercado que antes era fechado para os grandes players do setor”, pontua.

Outro fator importante é que os derivativos podem proteger vendedor e comprador de riscos de sazonalidade na produção de energia, ou seja, de períodos em que o clima influencia negativamente na geração de eletricidade e por consequência no preço – o que tornaria o setor mais previsível.

Os derivativos podem estimular investimentos no setor de energia, já que o risco do negócio vai ser diminuído para ambas as partes.

 

Fonte: Estadão.