Esse novo mundo poderá ser impulsionado pelo avanço da geração distribuída solar na matriz. Em 2012, a presença da fonte era ínfima. Hoje está perto de 8 GW e esse número deverá crescer, com pessoas físicas e jurídicas adquirindo placas fotovoltaicas para reduzir a conta de luz.

A expansão da geração distribuída cria a figura do “prosumidor”, ou seja, o cliente da distribuidora passa a ter papel mais ativo, ao se tornar um minigerador também. Essa tendência de empoderamento do consumidor cria o desafio para as concessionárias de se reposicionarem.

Estimativas de analistas apontam que hoje apenas 5% dos dados são capturados e usados a favor das empresas de energia, sendo que boa parte deles é usada de forma não integrada. Com o 5G, a estrutura da rede se torna mais rápida e eficiente, com a circulação de dados muito mais veloz. Nesse contexto, uma forma de interação são as redes inteligentes, cuja implementação permitirá que as máquinas e equipamentos conversem entre si buscando maior eficiência e que cada eletrodoméstico tenha seu consumo em tempo real avaliado pelo consumidor. O smart grid também vai aumentar a interação com o consumidor, que poderá ter à sua disposição tarifas diferenciadas por horário.

Segundo as estimativas do mercado, o setor hoje no Brasil conta com cerca de 80 milhões de medidores, sendo a maioria tradicional, sem tecnologia de ponta embutida. O custo de um equipamento inteligente pode superar R$ 500, enquanto o tradicional custaria cerca de R$ 100 a unidade. Enquanto o modelo tradicional tem um tempo de vida de 25 anos, o novo dura menos que a metade. O medidor mais moderno é bidirecional, permite múltiplas ligações de geração distribuída solar e está pronto para ser acoplado à rede de recarga de mobilidade elétrica. A maioria dos projetos das concessionárias de energia elétrica que preveem a troca de equipamentos não é baseada em recursos próprios, mas na iniciativa do programa de pesquisas & desenvolvimento da Aneel.

Hoje a velocidade da modernização das redes ainda é nebulosa em razão de indefinições regulatórias. Primeiro, não haveria incentivo econômico para a troca dos equipamentos tradicionais pelos mais novos, que são mais caros. O custo de um medidor inteligente estaria em US$ 100, sendo que outros US$ 50 seriam gastos em sistema de comunicação. O Brasil tem mais de 80 milhões de medidores, sendo que menos de 5% deles são inteligentes. Os investimentos apenas na troca desses equipamentos e em sistemas de comunicação usados neles poderiam superar R$ 30 bilhões. Um problema é que o reconhecimento na tarifa é dado apenas na revisão periódica, que ocorre a cada quatro a cinco anos.

A agenda de modernização do setor elétrico está emperrada no Congresso Nacional. Os projetos de lei 1917 e 414, que tratam da regulação de novas tecnologias, ficarão para serem debatidos, mais uma vez, em 2022, um ano em que as principais pautas poderão ter uma janela curta: apenas o primeiro semestre, já que no segundo o foco serão as eleições para presidente e governadores.

Fonte: Globo.